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ABERTURA
DE SAFRA

Novo ciclo produtivo, grandes expectativas, opiniões importantes. O que nos reserva a safra que vem pela frente? Para saber, o Boletim GTEC foi ouvir dois integrantes de peso do Constagro: Luis Kasuya, da Kasuya Consultoria, e Marcelo Sumiya, da Cooperativa Coamo.

Produtividade, economia e inovação estiveram na pauta da conversa. A seguir, um pouco dessa bate-papo que, a exemplo da próxima safra, foi bem produtivo.

Marcelo Sumiya

Hoje para você ter um sucesso de safra, é importante pensar o sistema de produção e a safra. Antigamente, você planejava essa safra individualmente. Hoje, o sincronismo de safras e de épocas de plantio têm que entrar no planejamento. Então, quando você pensa “planejar uma safra agora” de verão, automaticamente isso deve envolver as decisões das culturas de inverno e de safrinha. A complexidade nesse aspecto é que você não trata somente a cultura. Você trata o sistema de produção. Essa é uma estratégia para que você otimize o máximo possível os recursos que você tem na propriedade.

Luis Kasuya

Essa antecedência de planejamento é fundamental e inclui a relação entre a cultura anterior e a cultura posterior. Hoje a gente fala muito de manejo integrado. Então eu trabalho com uma lavoura sempre pensando no campo que eu posso entregar para a cultura que vem depois. Isso é determinante para o sucesso de uma safra. Por exemplo, nós temos muitos fungos que ficam no solo e que vão atingir a cultura posterior. Na cultura da soja está o mesmo fungo que vai para a cultura do algodão. Isso é um fato que deve estar no planejamento.

“Você não trata somente a cultura; você trata o sistema de produção”

Boletim GTEC

Pensando na abertura de safra e suas perspectivas produtivas, econômicas e de gestão, que estratégias vocês acham que são certeiras para o sucesso desse ciclo de produção?

Boletim GTEC

Outra perspectiva que se coloca num pré-safra é a ação tecnológica. É possível se perceberem avanços tecnológicos de uma safra para outra? Se sim, como?

Luis Kasuya

Sim. Quando você fala na parte digital, por exemplo, hoje nós temos um banco de dados cada vez maior, para que a gente possa analisar e interpretar esses dados. E isso aí faz com que quando você começa a cruzar dados, as tecnologias vão te ajudando bastante. Por exemplo, se nós pegarmos a soja, nós estamos vendo que essas variedades são as mais modernas que já tivemos. Cada ano estão (agricultores) plantando mais. São dados que trazem uma exigência nutricional maior. Isso faz com que o patamar de tecnologia do produtor também seja maior, afinal, ele entrega números cada vez mais robustos. Porém, na minha opinião, todo esse avanço não substitui o ser humano. É ele que vai saber orientar da melhor maneira possível esses dados, esses números de crescimento, essa informação concentrada, para que as tomadas decisão sejam cada vez mais assertivas.

“Nenhum avanço substitui o ser humano”

Marcelo Sumiya

O avanço tecnológico sempre ocorre, mas o interessante é se fazer uma análise do que deu certo e do que não deu ao longo de uma safra. Isso nos ajuda a corrigir a rota. No meu ponto de vista, toda vez que surge uma safra desafiadora, temos outra mais fortalecida no ano seguinte, isso porque somos obrigados a ter um olhar clínico para essa correção de rota em termos de produção. Então eu acredito que, naturalmente, numa safra após outra, salvo haja uma frustração de clima, sempre nós vamos ter uma colheita recorde, porque todo ano há um incremento de área, principalmente nas novas fronteiras agrícolas do Brasil. É importante ressaltar que toda evolução tecnológica traz desafios de gestão que são diferentes ano após ano, safra após safra.

Boletim GTEC

Não bastassem todos esses desafios, a gente tem também um tema delicado, que muitas vezes é polêmico – falamos aqui da questão da sustentabilidade. O agricultor brasileiro está cada vez mais bem preparado para lidar com essa questão, seja nos aspectos de regulamentações, de produtividade ou até de enfrentar um ano climático desafiador, como foi o de 2024?

Luis Kasuya

Ele está cada vez mais bem preparado. Vou citar alguns números. Nós utilizamos apenas 8% do território brasileiro para agricultura. Temos uma margem de expansão enorme, e esse avanço pode acontecer e já está acontecendo sem a gente derrubar nenhuma árvore – isso por conta de produtividade e de plantio em áreas de pastagens degradadas que podem ser cultivadas. Sobre esses 8% já plantados, há uma regulamentação que o agricultor brasileiro obedece à risca. Isso envolve margens de rios, fundos de vale, mananciais e reservas obrigatórias que vão de 20% a 80% das terras nas propriedades. Muitas vezes o agricultor compra uma terra e não constrói nada nela. Esse é um aspecto de preservação, o outro é o manejo integrado. Fora isso, existe também um controle seletivo cada vez maior com relação a produtos químicos.

Marcelo Sumiya

Eu posso trazer aqui uma comparação com o passado. Na propriedade da minha família, fazíamos o plantio convencional e agora adotamos o plantio direto. Com os avanços que tivemos ao longo do tempo, isso mudou, e hoje temos um domínio maior sobre outras formas de manejo, mais sustentáveis.  A sustentabilidade hoje está presente tanto na pequena quanto na grande propriedade. Um aspecto interessante disso tem a ver com o mercado para o qual exportamos. Por meio do trabalho da cooperativa, nós garantimos a origem da soja produzida por pequenos e por grandes proprietários. Essa garantia se reverte numa certificação internacional que atesta que a soja envolvida não foi cultivada provocando desmatamento.

“A sustentabilidade está presente tanto na pequena quanto na grande propriedade”

Boletim GTEC

O próximo assunto tem a ver com o preparo para tudo isso. Estamos falando de capacitação. Vocês se sentem satisfeitos com o que estão vendo sobre preparação tanto do corpo técnico que atende aos agricultores quanto a preparação dos próprios agricultores nesse aspecto?  A gente está se capacitando para essas mudanças?

Boletim GTEC

Para terminarmos, por que a agricultura vale a pena?

“Precisamos capacitar cada
vez mais”

Marcelo Sumiya

A agricultura te faz sofrer quando chove muito, quando chove pouco, quando você tem desafios tecnológicos, de legislação etc. Então, o que faz valer a pena é você ter amor por ela, mesmo com tudo isso. Agricultura está ligado a vocação, a paixão. Isso envolve formar pessoas, rentabilizar a terra e inspirar gerações futuras a permanecerem nessa terra.

Marcelo Sumiya

Eu vejo um gap, uma deficiência em algumas entregas ligadas aos mais jovens. Muitos estão interessados no digital e se esquecem do básico, do “arroz com feijão”.  Todo o aparato tecnológico com o qual estamos convivendo tem que acompanhar o agricultor, e o profissional bem capacitado é aquele que entende isso. 

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Luis Kasuya

E esse é um ponto extremamente relevante. Nós temos que cada vez mais capacitar. E isso é uma palavra que eu uso muito no meu vocabulário. Nessa linha, nós precisamos mostrar o potencial do agronegócio aos mais jovens. A tecnologia está nesse contexto, e cabe ao profissional atual estar a par das mudanças que ela promove – isso é aprimoramento, e é isso que garante não só a nossa presença nesse mercado, mas, também, a forma como transformamos ele.

“Agricultura está ligado a vocação, a paixão.”

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Luis Kasuya

Vou terminar citando um período marcante na vida de todos nós: a pandemia. Todos os setores pararam, parcial ou integralmente. A agricultura não. Aliás, ela conseguiu crescer nesse período. Hoje alimentamos o Brasil e mais de um bilhão de pessoas no mundo – e temos potencial para mais. Por isso, a agricultura vale a pena.

“Hoje alimentamos o Brasil e mais de um bilhão de pessoas no mundo”

Fatores produtivos, financeiros e de gestão sempre serão desafiadores qualquer safra e esta não será diferente.

No entanto, as perspectivas são boas, como tem sido nos últimos anos. Novas técnicas de manejo, inovação tecnológica e ampliação de conhecimentos de gestão são fatores que mantêm o agricultor brasileiro à frente de seus pares internacionais e garantem que o agro brasileiro siga seu caminho de evolução.

 

Esse é um cenário que Luis Kasuya e Marcelo Sumiya nos ajudaram entender!

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