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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NO CAMPO?

Entrevistamos Marcelo Canteri, Doutor em Fitopatologia, Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Diretor de Projetos do Centro de Inteligência Artificial na Agricultura. Nesse bate-papo, Canteri fala sobre a tecnologia no campo, os desafios do agricultor, a importância da pesquisa na agricultura e muito mais! Confira!

Canteri, enquanto pesquisador, você se vê como um elo entre as constatações de suas pesquisas e os desafios enfrentados pela agricultura na busca de maior produtividade?

Precisamos manter um contato permanente com a sociedade, com os produtores e as empresas. Não adianta a gente apenas fazer a pesquisa e não divulgá-la. As nossas pesquisas têm que se reverter em mensagens simplificadas para quem vai se beneficiar delas.

Isso mostra uma vivência em mais de um aspecto, certo? Um pé na academia e um pé no campo, correto?

Na universidade, a gente é contratado para três coisas: para dar aula, para fazer as pesquisas e para divulgar essas pesquisas. Essas são as áreas em que atuamos; então, temos que jogar nas três posições.

O que te instiga a buscar soluções, inovações e propostas de diversificação produtiva?

O que me instiga é constatar um problema no campo, que está afligindo o agricultor. Ele chega para nós e fala: “Poxa, eu não estou conseguindo resolver esse problema, tá dando um problema na minha área, as minhas plantas estão sofrendo agora”. A gente tem que correr atrás, né? Então, essa dinâmica é bastante interessante. É por isso que é importante estar em contato com o campo direto.

Pensando no nosso agricultor, qual a vantagem competitiva dele com relação a produtores mundo afora?

Nós temos uma agricultura tropical e subtropical, e isso já faz parte do imenso sucesso do nosso produtor. E ele tem mostrado uma grande evolução, que começou a acontecer lá da década de 80 e segue até agora. Há regiões da Ásia que hoje produzem de maneira similar à que nós produzíamos na década de 70. A veia empreendedora no nosso agricultor nos levou a essa evolução também.

E você acha que essa competitividade está sendo acompanhada de uma profissionalização no campo?

A gente enxerga isso, sim. As empresas agrícolas estão cada vez mais profissionalizadas, e esse fenômeno também vemos na agricultura familiar - a “passada de bastão” entre as gerações, na sucessão de propriedades, conta com processos muito mais profissionalizados. As novas gerações percebem que esse cuidado é fator de sucesso quando eles assumem o controle da propriedade.

Pensando nisso, há um fenômeno de sucessores voltando ao campo depois de deixarem as propriedades e irem para a cidade?

Muitos filhos de agricultores deixaram suas propriedades e estão voltando ao campo. Esses sucessores foram para a cidade em busca de formação, e nessa volta muitos deles têm uma visão mais profissional, mais gerencial do negócio. Isso pode revelar áreas de atuação em que se necessite avançar nessas propriedades.

Você acha que essa visão do agro forte, principalmente replicada na mídia, pode ser um fator motivador dessa volta?

Isso colabora muito, mas eu destacaria também a questão tecnológica. O acesso à internet no campo e todas as demais transformações tecnológicas pelas quais estamos passando criam um ambiente de modernidade e inovação atrativo para os jovens.

Já que você falou em tecnologia, é possível perceber uma diferença muito grande entre o acesso a ela comparando o pequeno e o grande produtor?

Há uma tendência natural de a gente se preocupar com o pequeno agricultor. Nas minhas aulas, eu trago esse tema para meus alunos. Uma das coisas que enfatizo é que toda tecnologia inicial é cara, e é natural que chegue primeiro ao grande produtor. Porém, este é o caminho natural da disseminação tecnológica. Com o passar do tempo, e novos aperfeiçoamentos, ela naturalmente se dissemina e barateia. Então, também é natural que o acesso às tecnologias de ponta seja mais restrito, até elas se tornarem mais populares.

É um processo de democratização da tecnologia?

Exatamente. Então eu lamento informar, mas toda tecnologia vai começar com os grandes, produtores com capital para investir em inovações de ponta. Assim, as empresas tecnológicas têm lucro e investem em outros equipamentos. Em paralelo, a concorrência de mercado faz o papel dela; aí o caminho é a diminuição de preços, momento em que o produtor com menos capital passa a ter acesso a essas tecnologias também.

Puxando para o tema “novas tecnologias”, a inteligência artificial já é uma realidade no campo?

Já é, sim. Claro que é um processo que ainda vai se desenvolver muito, mas ela já está em muitas propriedades, e existem muitos projetos de disseminação da IA na agricultura. Eu mesmo coordeno um desses projetos aqui no Paraná. Trata-se de uma parceria entre o governo estadual, a Universidade Estadual de Londrina e alguns institutos e fundações de pesquisa. Existem coisas fantásticas que a gente vai fazer com a inteligência artificial na lavoura. Estamos apenas no início desse caminho. 

Pensando nos desafios do nosso agricultor, que gargalos você destacaria como empecilhos para o aumento da nossa produtividade?

Um dos gargalos que eu destacaria é o logístico. Nós temos duas safras por ano – em algumas regiões, até três -, e ao mesmo tempo uma dificuldade em escoar esse produto para os grandes centros de distribuição. Outra preocupação nesse sentido tem aspecto burocrático, em função de taxas e baixo estímulo. Na parte de pesquisa, há alguns gargalos tradicionais no tocante a recursos, mas, no geral, as boas pesquisas alcançam patrocínio dos mais diferentes órgãos. Se a sua pesquisa é competitiva, ela consegue acesso a um recurso.

Para a gente terminar, você pode destacar, entre as suas funções, uma das que mais te orgulham?

Uma das funções que mais me orgulham é contribuir para que o agrônomo leve saúde para a população. Quando ele colabora para o agricultor produzir mais e melhor, as pessoas têm acesso mais fácil a aos alimentos, e toda as sociedade ganha. Isso é motivo de orgulho para mim.

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